A infância é um tempo mágico, repleto de curiosidade, descobertas e movimento. Em meio ao avanço da tecnologia, é comum vermos crianças cada vez mais conectadas a telas, enquanto muitas das experiências que envolvem o corpo, a criatividade e o convívio com outras pessoas vão ficando para trás. É nesse cenário que as brincadeiras antigas ganham um papel especial: elas resgatam a simplicidade, promovem laços e, acima de tudo, ajudam no desenvolvimento infantil de maneira leve e divertida.
Quem nunca pulou amarelinha, brincou de esconde-esconde ou cantou ciranda-cirandinha segurando as mãos dos amigos? Essas experiências não apenas marcaram gerações, mas continuam sendo uma forma poderosa de estimular habilidades importantes, como coordenação, concentração e empatia. Ao contrário do que muitos pensam, as brincadeiras antigas não estão ultrapassadas — elas são atemporais justamente porque respondem a necessidades humanas universais.
Uma pesquisa recente divulgada pela Unicef (2023) reforça a importância das atividades lúdicas tradicionais para o desenvolvimento integral das crianças. Elas ajudam a construir competências sociais, cognitivas e emocionais de maneira natural. Este artigo é um convite para lembrar, reaprender e compartilhar essas brincadeiras com as novas gerações. Vamos juntos?
1. O resgate das brincadeiras antigas no cotidiano infantil
A importância do brincar livre
As brincadeiras antigas valorizam o brincar livre, sem roteiros prontos. Elas convidam as crianças a criarem regras, resolverem conflitos e exercitarem a imaginação.
Convivência entre gerações
Essas brincadeiras aproximam avós, pais e filhos, criando pontes afetivas. Jogar uma partida de bolinha de gude com o avô ou brincar de passa anel com a mãe fortalece vínculos e memórias.
Redução do uso de telas
Incluir atividades lúdicas do passado na rotina é uma forma saudável de equilibrar o tempo de exposição digital, promovendo mais movimento e interação.
2. Amarelinha: equilíbrio entre o corpo e a mente
Como brincar
A criança deve jogar uma pedrinha em uma casa desenhada no chão e ir pulando em um pé só (ou dois, dependendo da casa), pulando a casa com a pedrinha. Depois deve retornar, pegar a pedrinha e seguir com o próximo número.
Habilidades desenvolvidas
- Coordenação motora
- Noção espacial
- Concentração e foco
- Controle do corpo
Sugestões para inovar
- Usar fitas coloridas para fazer amarelinha dentro de casa
- Criar versões com letras ou formas
- Desafios com tempo para crianças maiores
3. Pular corda: ritmo e cooperação
Modos de brincar
Sozinha ou com amigos, pular corda é uma das brincadeiras antigas mais completas. Pode-se pular individualmente ou em grupo, com músicas e desafios.
Benefícios para o desenvolvimento
- Estímulo ao ritmo e coordenação
- Melhora da resistência física
- Fortalecimento muscular
- Incentivo ao trabalho em equipe
Dicas de músicas para brincar
- “Um homem bateu em minha porta”
- “Batatinha quando nasce”
- “Fui no tororó”

4. Esconde-esconde: estratégia e paciência Regras do jogo
Uma criança conta enquanto as outras se escondem. Ao terminar, começa a procurar os colegas, que devem evitar ser encontrados.
Habilidades em destaque
- Estratégia e tomada de decisão
- Controle emocional
- Socialização e cooperação
- Paciência e autocontrole
Alternativas divertidas
- Esconde-esconde no escuro (com lanterna)
- Versão com pistas para encontrar o “tesouro”
- Jogo em equipe com fases
5. Cinco Marias: agilidade e precisão
Como jogar
Usando saquinhos de areia ou pedrinhas pequenas, o objetivo é jogar uma peça para o alto e pegar outra do chão antes que a primeira caia, em diferentes fases.
O que a criança desenvolve
- Coordenação motora fina
- Foco e raciocínio rápido
- Destreza manual
- Concentração e sequência lógica
Materiais alternativos
- Tampinhas coloridas
- Feijões pintados
- Pedrinhas arredondadas
6. Brincadeiras antigas: pega-pega e o estímulo à agilidade
Variedades do pega-pega
O pega-pega é uma das brincadeiras antigas mais versáteis e populares entre as crianças. Existem diversas variações, como:
- Pega-congelou: quando alguém é tocado, deve ficar parado até ser “descongelado” por outro jogador. Essa variação estimula ainda mais o trabalho em equipe e a atenção ao que acontece ao redor.
- Pega-corrente: quem for pego passa a ajudar o pegador, formando uma corrente. Com o tempo, a corrente vai crescendo, exigindo mais coordenação e estratégia dos participantes.
- Pega-colorido: o pegador grita uma cor, e todos devem tocar em algo dessa cor para não serem pegos. Essa versão estimula o reconhecimento visual e a rapidez no pensamento.
Essas variações mantêm a brincadeira dinâmica e adequada para diferentes faixas etárias, podendo ser adaptadas de acordo com o número de crianças, o espaço disponível e até mesmo o clima (versões adaptadas para espaços fechados, por exemplo).
Benefícios para o corpo e mente
Participar do pega-pega oferece uma série de benefícios:
- Agilidade e velocidade: a necessidade de correr e mudar de direção rapidamente desenvolve o reflexo, a percepção espacial e o tempo de reação.
- Resistência física: mantém o corpo ativo, fortalece músculos e melhora a capacidade cardiovascular.
- Raciocínio rápido: escolher onde correr e para onde fugir estimula a tomada de decisões sob pressão, desenvolvendo também habilidades de antecipação.
- Interação social: promove amizade, cooperação, respeito às regras e noção de limites especialmente em brincadeiras de pega com múltiplos participantes.
- Regulação emocional: lidar com a frustração de ser pego ou a empolgação de capturar alguém contribui para a inteligência emocional.
Segurança durante a brincadeira
Para garantir a segurança das crianças:
- Escolha locais com espaço livre e sem obstáculos perigosos, como buracos, pedras ou escadas.
- Combine regras claras antes de iniciar, como não empurrar e respeitar o espaço do outro.
- Oriente sobre limites seguros e comportamento respeitoso, estimulando empatia e cuidado coletivo.
- Supervisione, especialmente com crianças menores, garantindo que a brincadeira se mantenha saudável e divertida.

7. Brincadeiras antigas: telefone sem fio e a escuta ativa
Como funciona
O telefone sem fio é uma brincadeira antiga simples, divertida e ótima para grupos. Funciona assim:
- As crianças sentam-se em círculo.
- A primeira pessoa sussurra uma frase no ouvido da próxima.
- A frase continua passando até chegar na última pessoa.
- Esta diz em voz alta o que ouviu geralmente muito diferente da original, gerando risos.
É uma brincadeira que, além do entretenimento, oferece reflexões sobre como a comunicação pode se alterar no processo de escuta e transmissão.
Lições por trás da brincadeira
Apesar de parecer só uma atividade divertida, o telefone sem fio estimula:
- Escuta atenta: prestar atenção aos detalhes do que foi dito, uma habilidade essencial no convívio social e na aprendizagem escolar.
- Memorização: lembrar a frase para repeti-la corretamente, fortalecendo a memória de curto prazo.
- Comunicação eficaz: pensar antes de falar, articular bem as palavras, e perceber como a entonação e clareza interferem no entendimento.
- Risos e leveza: uma excelente forma de quebrar o gelo em grupos novos ou turmas de escola, promovendo integração.
- Percepção crítica: mesmo crianças pequenas começam a perceber a importância de ouvir com atenção e repetir com responsabilidade.
Dicas para inovar
- Use frases temáticas (animais, comidas, personagens) para tornar a brincadeira mais educativa.
- Desafie as crianças a manter a frase correta até o fim, transformando a atividade em um jogo de cooperação.
- Combine com outras atividades como mímicas ou desenhos que ilustrem a frase final, gerando debates e risadas.
- Introduza variantes com ruídos externos, para treinar ainda mais a concentração.
8. Brincadeiras antigas: passa anel e o mistério do toque
Como jogar
No passa anel, um jogador (o “passador”) segura um anel entre as mãos juntas e passa por cada criança enfileirada, fingindo colocar o objeto nas mãos de todos. Em algum momento, ele solta o anel nas mãos de alguém. No final, escolhe uma criança para adivinhar com quem ficou o anel.
Além do anel, pode-se usar outros objetos pequenos, como uma pedrinha, uma bolinha ou até um botão.
Desenvolvendo o foco e a percepção
Essa brincadeira antiga simples oferece benefícios surpreendentes:
- Atenção aos detalhes: observar discretamente os movimentos do passador, controlando o impulso de reagir.
- Autocontrole: manter a compostura se estiver com o anel, exercitando o domínio emocional.
- Leitura de expressão corporal: tentar descobrir através dos gestos e expressões quem está com o objeto.
- Capacidade de dedução: levantar hipóteses, analisar padrões e testar ideias com base em observações.
- Concentração coletiva: todos os participantes precisam estar atentos ao mesmo tempo, criando um ambiente de atenção compartilhada.
Adaptações para mais emoção
- Usar outros objetos além do anel, com diferentes texturas e tamanhos.
- Colocar música ambiente para dificultar a escuta e aumentar o desafio.
- Jogar em duplas, criando dinâmicas de trabalho em equipe e aumentando a imprevisibilidade.
- Introduzir penalidades leves e divertidas para palpites errados, como dançar ou cantar.
9. Brincadeiras antigas: bolinha de gude e a precisão dos movimentos
Regras básicas
Bolinhas de gude, também chamadas de “búlica” em algumas regiões, são pequenas esferas de vidro usadas para tentar acertar as bolinhas dos outros jogadores e ganhá-las. Existem várias formas de jogar, mas geralmente se faz um círculo no chão e os jogadores disputam para tirar bolinhas do campo usando outra bolinha como lançador.
Além do círculo, existem variações que usam trilhas desenhadas na areia ou buracos no chão, aumentando a dificuldade e a diversão.
O que a criança aprende
- Mira e precisão: alinhar bem o movimento da mão com o objetivo, exigindo paciência e concentração.
- Capacidade estratégica: calcular força, ângulo e tempo para atingir a bolinha do adversário sem errar.
- Coordenação motora fina: controle dos dedos e do punho, essencial para atividades escolares como a escrita.
- Espírito esportivo: ganhar ou perder de forma respeitosa, compreendendo regras e convivendo com a competição saudável.
- Planejamento e análise: antecipar movimentos dos outros jogadores e adaptar a própria jogada.
Variações criativas
- Jogo com obstáculos: pedras, palitos ou areia para criar desafios e pistas diferenciadas.
- Contagem por pontos: bolinhas de diferentes cores com valores específicos, estimulando matemática básica.
- Torneios em grupo: com regras próprias, tabelas e premiações simbólicas.
- Personalização: as crianças podem decorar suas bolinhas ou criar histórias e personagens para cada uma.

Conclusão
A infância é uma fase marcada por descobertas, movimento e conexões que vão muito além das palavras. Em meio a tantos estímulos modernos como telas, jogos eletrônicos e conteúdos digitais, resgatar as brincadeiras antigas pode parecer algo simples, mas carrega um valor imenso para o desenvolvimento infantil. Quem nunca correu descalço no quintal, pulou amarelinha no chão da escola ou riu alto durante um pega-pega ao entardecer? Essas memórias não são apenas nostálgicas, são também poderosas ferramentas de crescimento.
Ao brincar, a criança experimenta o mundo com o corpo, com os sentidos e com o coração. E quando falamos de brincadeiras antigas que atravessam gerações, falamos também de vínculos, cultura e aprendizado espontâneo. Pesquisas já apontam que atividades lúdicas tradicionais promovem não apenas a socialização, mas também habilidades cognitivas, motoras e emocionais (Fonte: Unicef Brasil, 2023). Brincar é, afinal, um direito garantido e uma necessidade para o desenvolvimento integral.
Além disso, essas brincadeiras podem ser adaptadas, reinventadas e inseridas na rotina da família ou da escola como momentos valiosos de conexão entre adultos e crianças. Quando pais, avós e educadores participam das brincadeiras, criam-se pontes afetivas que fortalecem vínculos e contribuem para a formação de uma infância mais feliz, segura e criativa.
Este artigo foi pensado como um abraço, um acolhimento para pais, mães, educadores e cuidadores que desejam oferecer às crianças um universo de experiências ricas, cheias de sentido e afeto. Vamos juntos redescobrir o valor das brincadeiras antigas que marcaram gerações e entender por que elas continuam tão relevantes para as infâncias de hoje.